quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Saco da Ribeira

Diário de Bordo do dia 13 de fevereiro de 2009 - 4ª feira

Depois de uma noite muito agradável no Saco das Palmas, defronte à antiga colonia prisional, amanheceu um dia (mais um dia) maravilhoso. O mar ali nem se mexia.


Levamos a embarcação até o pier, e a reabastecemos de água e aproveitamos para dar uma lavada no convés. Arrumada as coisas recebemos um convite irrecusável: tomar um cafezinho preto feito na hora. Fantástico! Amante de café como sou...


O Zico havia preparado o café e com sua hospitalidade (como dos demais), relaxamos batendo um papo dos melhores. Vi que o Zico, o Carlinhos e Benedito estavam com as malas preparadas para irem para o continente. Já haviam cumprido sua jornada de quatro dias de serviço e agora desfrutariam de mesmo período em casa.

Como tínhamos que ir até o Saco da Ribeira, oferecemos carona. Embarcados, zarpamos, nos despedindo de Rene, que estava agora em segundo dia de serviço, não sem antes combinarmos um churrasco na Praia do Sul.

Começamos a rumar para o Saco da Ribeira e não consegui deixar de pensar em um episódio particular da dita rebelião, quando um dos soldados em serviço naquele fatídico dia, ao se perceber da anormalidade e das atrocidades que ocorriam, nadou através do boqueirão que separa a Ilha Anchieta do continente. Nada, nada, são ao menos quinhentos metros...o problema que naquela ocasião, a ilha que também era conhecida como Ilha dos Porcos, pelo fato de seu moradores criarem suínos, possuiam o hábito de jogar as entranhas dos animais abatidos exatamente no boqueirão, com a finalidade de atrair tubarões (o que de fato ocorria) para pesca e para dificultar a fuga (justamente) a nado da ilha pelos sentenciados. Pois exatamente nesse cenário, o heróico soldado nadou em busca de ajuda aos demais.

Vencido o pequeno trecho, rumamos para o interior da enseada e fomos chegando ao dito Saco. Bem próximo do canal de acesso ao interior do saco, repleto de barcos ancorados, perdi completamente o leme. Olhei para o Ricardo e mostrei por sinal. Ele rapidamente foi até a bomba do hidráulico e não conseguiu resolver o problema. Notificquei aos demais passageiros do problema e que iríamos encerrar nossa navegação manobrando apenas com os motores. Como dizem no mar, quem tem dois tem um, quem tem um não tem nenhum, tratando-se de motores.

Manobra daqui e dali, ancoramos em segurança bem ao fundo do Saco. O Ricardo rapidinho foi verificar o nível do óleo hidráulico e percebeu que estava baixo. Nesse interim, eu estava no pier e já tinha sido apresentado a um marinheiro de uma das escunas que ali existem que ligou para um mecânico que atende por ali. Ricardo me sinalizou que não havia necessidade, pois já havia descoberto o problema, mas não teve jeito. Como do nada surgiu o Roberto, mecânico do local.

Subiu a bordo, e com seu tamanho privilegiado, em cada movimento dentro da embarcação a fazia adernar. Laudo final: faltas de óleo no hidráulico. Colocou 1 litro e me cobrou R$ 30,00 pelo atendimento. Achei justo, o leme voltou e ele ainda descobriu que o leme do fly está com a caixa sem função. Isso me fez lembrar do Adaílton...

Aproveitamos, o Gutinho e eu, para irmos ao supermercado completar alguns itens de nossa dispensa (miojo) e comprar mais óleo hidráulico, pos apesar de não ter sido encontrado nenhum vazamento (de fato não há), sempre é bom prevenir, quando se está no mar.

No mercado, percebi que havíamos exagerado um pouco nas compras, e como o mercado não era tão perto assim do pier, conseguimos que um garoto levasse nossas compras de bicicleta. O problema é que ele foi na nossa frente. Só faltava errar o barco e fazer algum pescador feliz.

Iniciamos nossos procedimentos de saída e paramos no posto flutuante que existe ali. Reabastecidos, saímos e voltamos à Praia do Sul, onde preparei uma fraldinha no ponto de deixar qualquer um com inveja. Carne macia, saborosa, no ponto, cerveja gelada e o cenário da foto, não tem como não ser feliz.

Visão da Praia do Sul


No meio do churrasco, o Gutinho me trouxe a notícia de que o Ricardo estava sentindo dor de dente. Perguntei desde quando, e fiquei surpreso ao saber que era desde o primeiro dia. Juntamos as coisas e embarcamos tudo, sem ao menos esperarmos os colegas Rene e Carpinati, despedindo-nos do Seo Joel e pedindo que ele explicasse o desencontro, mas não queria correr o risco de dormir por ali mais uma noite e o Ricardo ter uma crise de dor de dente longe de algum local de socorro.


Gutinho e Ricardo em nosso retorno à Ilhabela

Nossos amigos e anfitriões, Rene (esq) e Carpinati (dir)



Levantamos o ferro e rumamos para a Ilhabela. No meio do caminho, comecei a observar um aguaceiro que caia sobre Caraguatatuba. Como nossa velocidade era pouca, em torno de 17 a 18 nós, fiquei temeroso que aquela chuva nos alcançasse em pleno mar. Provavelmente se isso ocorresse, teríamos que fazer uma curva para BB e teríamos que ficar rodando por ali até que ela passasse, pois seria impossível acharmos o canal de Ilhabela sem visualização, ainda mais que observava uma grande cargueiro ancorado em sua entrada. Mas de qq forma, tudo correu bem, pois conseguimos adentrar ao canal em segurança e retornamos à mesma poita anterior.

Único problema foi que um catamarâ que fica mais na parte externa tin ha se deslocado bem róximo da bóia pretendida por nós, mas sem maiores problemas ancoramos.

Como o Almir e a Míriam, proprietários das bóias estavam por ali, conversei a respeito de onde poderia encontrar um dentista para atender aquela emergência. eles prontamente nos ajudaram e inclusive nos deram carona, haja vista que a essa hora já chovia sobre a bela Ilhabela.


Improvisamos uma capa extra para a embarcação por conta da chuva que caiu desde quarta-feira

Assim, em meu quarto dia de efetiva navegação, havia se encerrado dentro de um consultório de uma dentista em Ilhabela...



Boa navegação à todos!

Capitão Amador Gutemberg
Comandante da embarcação Rei dos Reis

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