Diário de Bordo em 10 de abril de 2010
A gente vai vivendo e ouvindo e vendo coisas. Disse meu primo Glauco - um absoluto "No Sense" de enorme coração - que a gente vai morrer e não vamos ver tudo (sic). Naquele momento ele falava sobre suas aventuras amorosas. É a maior autoridade nesse assunto que conheço, mas deixa para lá...
Em conversas tempos atrás eu tinha ouvido falar pelo Felipe de um quase conflito bélico entre o Brasil e a França, entre 1961 e 1963, que recebeu o nome de Guerra da Lagosta. Naquela ocasião, alertada por pescadores brasileiros, nossa Marinha de Guerra (MB) deslocou-se para a região nordeste do Brasil, em nossas águas territoriais, hoje chamada pela MB de Amazônia Azul. Lá encontrou de fato pesqueiros franceses fazendo a festa em nossas águas.
Expulsos, reclamaram o direito da pesca junto ao Governo da França, quando na ocasião seu presidente era o General Charles de Gaulle - aquele mesmo que durante a 2ª Guerra Mundial, quando os nazistas invadiram a França, fugiu para a Inglaterra e lá fez um discurso famosos para que o POVO francês resistisse aos alemães, enquanto muito provavelmente tomava seu chazinho das cinco...
Charles de Gaulle |
Pois bem. O fato é que se noticiou pela impressa mundial que o mais potente navio de guerra frances, chamado "Clemenceau", estaria rumando para nossas águas para assegurar o direito francês a captura das lagostas.
Foi dada ordem de se mobilizar navios de guerra brasileiro para a área e diversas belonaves foram deslocadas de diferentes regiões do Brasil para a defesa. Houve também o aprontamento de efetivos da Força Aérea Brasileira e do 4º Exército, sedidado em Recife, comandado pelo próprio General Humberto de Alencar Castello Branco. Nosso presidente à época era João Goulart.
De todos os navios brasileiros que se deslocaram para o local, apenas um conseguiu chegar e sem que os franceses soubessem - graças a Deus pelos marinheiros brasileiros que lá estavam - sem qualquer capacidade de manobra, pois de seus quatro motores, apenas dois funcionavam a meia carga. Outra: sua capacidade bélica se limitava a trinta minutos de combate, ou seja, tinha munições para apenas trinta minutos de combate. Ou acertariam pontos estratégicos do Clemenceau ou virariam alvo fácil daquele.
Para nossa sorte, o apoio naval francês não passava de uma Corveta. Diante da possibilidade do embate, ela se retirou com os barcos pesqueiros de nossas águas.
O fato é que comissionou-se uma representação para ir discutir o assunto com os franceses e eles começaram a alegar que na verdade nosso direito territorial seria pela plataforma submarina e não pelas águas.
No debate diplomático entre o Brasil e a França, a comissão brasileira foi assessorada pelo então Almirante Paulo Moreira da Silva, especialista da Marinha do Brasil na área de Oceanografia. Durante os debates, os especialistas da França defendiam que a lagosta era apanhada quando estava nadando, ou seja, sem contato com o assoalho submarino (considerado território brasileiro), momento em que, longe do contato com a plataforma continental, poderia ser considerado um peixe.
Nesse momento, o Almirante Paulo Moreira tomou a palavra, argumentando que para o Brasil aceitar a tese científica francesa de que a lagosta podia ser considerada um peixe quando dá seus "pulos" se afastando do fundo submarino, então teria, da mesma maneira, que aceitar a premissa do canguru ser então considerado uma ave, quando dá seus "pulos". A questão foi assim encerrada a favor do Brasil.
Manchete sobre a Guerra da Lagosta entre 1961 e 1963 |
O fato é que eu não conhecia esse fato e muitíssimo pouco se fala dela em nossa história, mas mostra o quanto temos que aprender sobre nós mesmos...
Um viva a todos os brasileiros mobilizados nessa campanha e um em especial ao Almirante Paulo Moreira da Silva pela sua postura e conhecimento.
Boa navegação à todos!
Capitão Gutemberg
Comandante da Embarcação Odyssey
Muito boa a matéria, caso precise de mais fonte sobre a Marinha de Guerra ou a Marinha Mercante, recomendo o www.naval.com.br/blog! Abs
ResponderExcluirMuito boa matéria! Os livros de história não falam da Guerra da Lagosta. Se não corrermos atrás, ficaremos com nosso conhecimento limitado.
ResponderExcluir